quarta-feira, novembro 22, 2006
On the brink of departure
On the brink of departure contemplo as folhas à minha frente. Já não estão estéreis, as folhas. Há já muito que o bloco foi pela primeira vez invadido,
invadido pela tinta da caneta
- eh lá!
que a tinta, da caneta,
- eh lá!
a tinta que teima em passar para o outro lado da folha,
- ora bolas!
a pensar eu, a pensar, que espero que não me tirem nunca esta coisa, o pensar, porém porventura raciocinar, que não havia outro lado da folha, que a tinta não podia passar para o verso,
o verso
- eh lá!
o verso que teimava a querer ser outro lado e eu, que nada podia fazer, eu espantado pelo facto de o verso poder ser outro lado, quando pensei que o papel com letras, com palavras, era, é vida, e, portanto, como pode a vida ter outro lado
- ora bolas!
outro lado que não este que contemplo aqui, que tento ver, mas é inútil, inútil, porque não consigo ver para o outro lado do papel, que não há luz que chegue, só a tinta,
a tinta da caneta
só a tinta da caneta a passar para o outro lado, a chegar ao verso, eu a tentar chegar ao verso, eu inútil, a caneta inútil, porque então,
e digo-vos eu,
pudessem as folhas contemplar-me volta e não veriam o outro lado, o verso de mim, porque não tenho tinta de caneta,
e porque não sei, de facto,
onde está o outro lado, o meu outro lado.
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2 comentários:
Eu até gostava de mandar um mail ao Pedro Mêda ... procuro em toda a parte ma não o encontro...
Obrigado!
dario@ocomboio.net
«No espelho não é eu, sou mim.
Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim.
Eu é cara-metade, mim sou inteira.
Quando mim nasceu, eu chorou, chorou.
Eu e mim se dividem numa só certeza.
Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma.
Eu amo mim
Mim ama eu»,
Rita Lee e Roberto de Carvalho
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